sexta-feira, fevereiro 23, 2007




Quero desaparecer…
Porque quando olho á volta as casas são feitas de cinza, as janelas não são mais que fumo, e o chão uma enorme mancha vermelha?
Porque é que o nevoeiro tomou conta da minha (como de tantas outras) vida, o sol deixou de entrar nas nossas cinzas, e ao passar pelas janelas apenas multiplica e espalha o fumo…
A vida é vermelha e preta. E a parte que ainda é cinza… para lá caminha.
Quero tornar-me vermelha…
Já não quero ser fumo, nem preto…
Quero o vermelho… Mereço esta fase terminal, não ma neguem!!! Se as lágrimas já se tornaram sangue porque tenho que permanecer fumo… porquê?
O que vejo à volta? Preto, cinzento e uma enorme mancha vermelha morta a alastrar… a entrar pelas nossas vidas e a levar algo que era meu… e depois fica o fumo vazio.
O ódio desperta, a raiva surge, a nossa vida deixa de ser algo incrível…
Afinal é apenas rotina de velhos, cansados, condenados mortos-vivos. Dentro de cada um já existe algo vermelho… ás vezes demora a apoderar-se de todo o resto… outras é fulminante.
E porque é que em mim demora tanto?!
Se EU QUERO que os meus alicerces caiam… se a cinza deles já esvoaça com a brisa do vermelho… Porque não caí logo tudo de uma vez? Porque é que estes vãos teimam em apenas espreitar e não fechar…
Sinto-me cansada… sou mais uma das almas condenadas a pagar por algo esquecido e apagado pelo tempo… pela cinza.
E a cada movimento a carne rasga… sangra… grita… implora por não repetir esta rotina que já não aguenta… e então cá continuo morta e a viver… até que um dia o céu fique (para mim) vermelho enfim.

2004.07.17

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